Amigos,
Ando escrevendo algumas coisas em tópicos de comunidades aqui do Orkut. Tenho recebido palavras de estímulo. As pessoas dizem que emprego bem os vocábulos.
Espero que meus leitores tenham o mesmo prazer que eu tenho quando escuto uma pessoa falar bem. Ou escrever bem. Isto me faz lembrar de meu antigo professor de Literatura. Certa vez ele contou o seguinte.
Ele morava em Vitória (ES). Lá, ele foi assistir a uma palestra de Guimarães Rosa. O grande mestre das palavras disse, mais ou menos, o seguinte:
- As palavras são como notas musicais. Vou escrevendo e sentindo o "som" delas. Se alguma não forma um perfeito "acorde" no conjunto, vou trocando até achar uma que "soa" bem.
Cito como exemplo da atualidade, as poesias musicadas por Chico Buarque. O que se sente nelas é a sonoridade, a grandeza e a plenitude do universo.
Sonho com isso.

(Altair Malacarne. Escrever. 21/12/2006.)

2.11.08

"Galos, noites & quintais"

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Bichos

O galo Branco é terrível. Nunca vi tanta(o) tesão. Ele não pára. Fica ameaçando correr atrás das galinhas, pra ver se emplaca. Se ela correr, ele dá em cima. Até pegar.
Ele está meio suruca, acho que de tanto trepar. Faz até galanteios. Outro dia passou perto de uma galinha e abaixou-se, como elas fazem quando "capitulam". Anda o dia inteiro, até anoitecer. No outro dia, de manhã cedo, é o primeiro a descer do poleiro. E se põe a esperar as fêmeas.
O terreiro tem 7 galos. As galinhas viviam correndo. Aí, a Maria achou que era melhor prender 6, inclusive o Branco. Um dia depois ela foi lá ver como eles estavam.
-Tardeli, tem 3 com o cu todo ferido. O que é isso?
-Tudo preso e sem galinha... Uns vêem o cu do outro e não perdem tempo. É melhor soltar.

O galo branco saiu disparado atrás de uma galinha.
Vai!

(Altair Malacarne - 01/12/06)



O galo manco

Nosso terreiro é uma festa. O dia inteiro. Um corre-corre de galo atrás de galinha, sem parar. Deve ter uns 7 galos e umas 30 galinhas. Elas só se "entregam" quando o danado consegue prender a cabeça dela. O galo Branco faz um "forró". Dá prazer olhar. Vez em quando, um deles canta.
Tem um pobre-coitado que é manco. Ele não consegue alcançar a fêmea. Corre, corre e não pega nenhuma.
Ele "tá" ficando meio doido. Como já assumiu a própria incapacidade, na corrida, se passa perto de outra fêmea, desvia o rumo e corre atrás da outra. Dá pena.
Observa-se que ele vive um drama. Além de ter de agüentar aquela tesão enorme, "sabe" que não conseguirá jamais deixar um descendente.
Natureza infame.

(Altair Malacarne - 06/12/06)



As galinhas da Telma

Amigos,
Depois que desistimos do canil, a minha mulher Telma resolveu tentar novamente criar galinhas. Uma paixão antiga.
Os animais pequenos sempre foram nosso xodó: cachorros, marrecos, galinholas, gatos, canários, sabiás, maitacas, sabiás, sofreus, melros.... um zoológico. Mas, eu nunca pensei que desse tão certo.
Aqui em casa é o topo de um morro e venta muito. Acho que, por isso, não dá doença.
Ela pegou ovos com a Amélia, com a Nina, com a Ivete. Em pouco tempo o antigo canil foi povoado. O Partelli fez umas caponeiras, próprias para criar pintos. O terreiro foi enchendo. Cada dia mais pintos, frangos, frangas, galinhas e galos. Apareceu um galo branco que era terrível: Vivia correndo atrás das galinhas. A Telma ficou com raiva, e matou ele e um galo manco.
Hoje em dia o terreiro é a coisa mais linda. Tem dia de tarde que eu sento na varanda e fico olhando a turma: cada um mais lindo que outro. As penagens são as mais belas e variadas.
Tomamos uma decisão: só vamos abater algum quando vier um filho. E o terreiro continua "crescendo". Comprei 10 sacos de milho em São Mateus e vamos a cada dia nos maravilhando. Parece um sonho acordado.

Abraços galináceos

(Altair Malacarne - 06/06/07)



O ovo

Colegas,
As galinhas estão por toda parte.
Outro dia, uma invadiu a varanda. Subiu num vaso de planta da Telma e fez a maior bagunça. Toda hora saía voando e gritando escandalosamente. Bem perto da janela da biblioteca. Até que se fez o silêncio. Passou a tempestade.
No dia seguinte, quando fui andar em volta da casa, vi o resultado: muita terra do vaso espalhada pela varanda e um ovo lindo colocado sobre a terra do vaso. Fiquei extasiado com aquela cena criadora. Um milagre. Que eu pensei que ia parar por ali. Nem falei nada com a Telma.
Passaram-se os dias. Frios.
Hoje fui dar minhas 5 voltas rotineiras. Não sei por que, levantei a cabeça pra olhar o ovo. Tem 6. A Telma vinha pra falar uma coisa comigo. Me pergunta:
- Altair, 'ocê já viu esse ninho de galinha?
- Coisa mais linda...

- Eu adoro; acho que eu queria ser uma galinha...
- Instinto materno; toda mulher tem.

Continuei caminhando. Freud veio-me à lembrança. Ele disse que o sonho de toda pessoa é voltar pro útero da mãe, o melhor tempo de nossa existência. O útero é o nosso ovo. Voltaremos a esse céu. Voltaremos ao seio da mãe-terra. E aí seremos novamente o ovo que fomos um dia. E o miraculum da vida se renovará.

Abraços

(Altair Malacarne - 20/08/07)



Na oficina

Amigos,
Elas estão por toda parte. Pra botar ovo, elas se espalharam pelo terreiro, varandas, horta, macega, portão de entrada, lavador de roupa, e, agora, em cima da minha mesa na pequena oficina, perto da garagem.
Quando a Telma me falou, eu não acreditei: U'a penosa botando ovo em cima da minha mesa. Era só o que faltava. Não pode ser... É demais...
Hoje ela veio com o ovo na mão:
- Olha aqui. Estava em cima da sua mesa. O indez está lá...
Minha cara foi parar no chão. Perdi o rebolado. Elas dominaram tudo. O espaço é delas. 'Tá tudo dominado. Mas, afinal.... que bom.
Um pinto que morre é um ovo no prato. Frito na manteiga, com polenta, potiado, estalado, na frutalha, pouco sal, mal passado, bem vermelhinho....
Deixa elas botarem. Podem zuar, voar, chocoalhar, cacarejar, cagar, esculhambar... Vocês são lindas. Donas do pedaço. Poderosas. Insuperáveis. Encantadoras. Bonitas. Cheias de tesão. Companheiras resignadas dos galos, aqueles sem-vergonha. Todo dia eles estão correndo atrás de vocês. Sem saberem que não é possível evitar o ovo. Maldito ovo. Bendito ovo. Bendito ovo. Bendito ovo.

Até.

(Altair Malacarne - 05/09/07)


(Textos postados por Edmilson Borret)

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