Bagno
Amigos,
Atualmente é muito divulgada a obra de Marcos Bagno em favor de uma codificação gramatical normativa segundo os padrões brasileiros. Principalmente que se levem em conta os diversos registros existentes no mosaico nacional. O povo brasileiro tem o direito de entronizar sua linguagem nos mais elevados patamares que garantem nossa nacionalidade.

Certa vez eu estava conversando com um amigo que havia feito um passeio pela Europa.
-Como se fala bem o Português em Portugal. Colocam os pronomes átonos com perfeição. Até as prostitutas...
Hoje sei que nunca conseguiremos igualá-los. Não adianta a escola insistir. O povo fala diferente. Até os 13 anos, eu falava e escrevia normalmente: "Pega ela". No antigo ginásio riram de mim. Comecei a "estudar Português". Eu não sabia. Minha mãe me tinha ensinado errado. Ali começou o meu calvário.
São passados 55 anos. Tornei-me professor de Português e bancário. Durante longos anos, fui um lutador pela causa da boa expressão. Li autores portugueses e brasileiros da melhor qualidade. Exerci o magistério com paixão, nos 3 níveis da escolaridade. Travei conhecimento com grandes professores que me expuseram com clareza o cenário brasileiro e me explicaram o drama que eu vivia e vivo. Ao final do tirocínio, rendi-me ao sistema fundamentalista. Errava sabendo e querendo.
Hoje ouço vozes que clamam pela autenticidade. Elas vêm de longe. Apenas para informar aos mais novos, me permito aqui falar de dois nomes que estiveram desse lado. Conheci-os no meio do caminho. O que eles disseram e o triste panorama da língua escrita no Brasil, me dão a certeza de assumir uma posição incômoda.
Na faculdade ouvi falar de Mattoso Câmara. Embora considerado hermético por alguns, sempre senti firmeza e propriedade em suas linhas. Minha admiração cresceu quando li em sua Estrutura da língua portuguesa a orientação para que se desse, no ensino do Vernáculo, grande valorização à fala que o aluno já traz pronta de casa. Por ali tive certeza de que a expressão escrita não pode ser um corpo estranho no ambiente escolar.
Esta avaliação tomou nova firmeza quando me encontrei com Celso Pedro Luft em Brasília. Luft, no livrinho Língua e liberdade, expõe argumentos definitivos a favor da soberania da gramática da fala. Ali se vê que o padrão dito culto pode ser o popular, sem prejuízo para uma variedade burocrática. O conhecimento da metaliguagem gramatical prescritiva não leva ipso facto ao bom desempenho factual do código. Antes, é imitando quem faz bem que fazemos bem. A leitura dos bons escritos levará à boa técnica. Como na arte musical, é "ouvindo" que se gosta e que se pode tentar fazer semelhante.
Que acham?
Mattoso Câmara
Mattoso Câmara, no Estrutura da língua portuguesa, diz que u’a norma gramatical, “para não ser caprichosa e contraproducente”, deve basear-se em 3 pilares:
1. Corresponder às lições da gramática descritiva.
2. Conhecer as causas profundas que levam à sua inobservação por alguns indivíduos ou classes.
3. Ser “elástica e contingente, de acordo com cada situação social específica..”
Embora não esteja escrito formalmente, entendo que os requisitos são cumulativos, i.e., a norma deve atender a todos eles. Evidentemente, tem de haver uma norma sancionada por quem de direito. Parece-me que, a nível de Brasil, esta tarefa não foi ainda completada.

O Português brasileiro hoje é um “Latim vulgar” em relação ao que quer ensinar a escola. Sabemos que é Português, e temos orgulho que seja uma grande herança deixada gratuitamente por nosso colonizador. Os morfemas segmentais portugueses estão aqui presentes e queremos que eles continuem. Se eu digo /up+ar/ por /subir/, estou seguindo o código que mamãe me ensinou.
Penso que nosso ensino de padrão culto deve passar por 2 alterações:
1. Como ensinar.
2. O que ensinar.
O triste panorama sentido pelo País afora está a nos dizer que é preciso mudar. Em lugar de xingar os considerados “extremistas”, acho que seria bom ouvi-los e mudar de rumo, antes que nosso Português vire Brasileiro. Por que não podemos ter uma gramática normativa para o Português Brasileiro?
Abraços.
(Altair Malacarne - 27/11/06)
(Textos postados por Edmilson Borret)
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