Amigos,
Ando escrevendo algumas coisas em tópicos de comunidades aqui do Orkut. Tenho recebido palavras de estímulo. As pessoas dizem que emprego bem os vocábulos.
Espero que meus leitores tenham o mesmo prazer que eu tenho quando escuto uma pessoa falar bem. Ou escrever bem. Isto me faz lembrar de meu antigo professor de Literatura. Certa vez ele contou o seguinte.
Ele morava em Vitória (ES). Lá, ele foi assistir a uma palestra de Guimarães Rosa. O grande mestre das palavras disse, mais ou menos, o seguinte:
- As palavras são como notas musicais. Vou escrevendo e sentindo o "som" delas. Se alguma não forma um perfeito "acorde" no conjunto, vou trocando até achar uma que "soa" bem.
Cito como exemplo da atualidade, as poesias musicadas por Chico Buarque. O que se sente nelas é a sonoridade, a grandeza e a plenitude do universo.
Sonho com isso.

(Altair Malacarne. Escrever. 21/12/2006.)

2.11.08

Da língua e da gramática

.

Bagno


Amigos,
Atualmente é muito divulgada a obra de Marcos Bagno em favor de uma codificação gramatical normativa segundo os padrões brasileiros. Principalmente que se levem em conta os diversos registros existentes no mosaico nacional. O povo brasileiro tem o direito de entronizar sua linguagem nos mais elevados patamares que garantem nossa nacionalidade.
Evidentemente temos um patrimônio cultural a preservar. Em 1822, ele não nos custou nada mas gravou para sempre nossa identidade perante o mundo. É uma questão de honra e amor-próprio conservar essa marca indelével que nos deixou o colonizador. A Portugal devemos, além da enorme "fazenda" conquistada, nossa certidão de registro de nascimento.

Certa vez eu estava conversando com um amigo que havia feito um passeio pela Europa.
-Como se fala bem o Português em Portugal. Colocam os pronomes átonos com perfeição. Até as prostitutas...
Hoje sei que nunca conseguiremos igualá-los. Não adianta a escola insistir. O povo fala diferente. Até os 13 anos, eu falava e escrevia normalmente: "Pega ela". No antigo ginásio riram de mim. Comecei a "estudar Português". Eu não sabia. Minha mãe me tinha ensinado errado. Ali começou o meu calvário.

São passados 55 anos. Tornei-me professor de Português e bancário. Durante longos anos, fui um lutador pela causa da boa expressão. Li autores portugueses e brasileiros da melhor qualidade. Exerci o magistério com paixão, nos 3 níveis da escolaridade. Travei conhecimento com grandes professores que me expuseram com clareza o cenário brasileiro e me explicaram o drama que eu vivia e vivo. Ao final do tirocínio, rendi-me ao sistema fundamentalista. Errava sabendo e querendo.
Hoje ouço vozes que clamam pela autenticidade. Elas vêm de longe. Apenas para informar aos mais novos, me permito aqui falar de dois nomes que estiveram desse lado. Conheci-os no meio do caminho. O que eles disseram e o triste panorama da língua escrita no Brasil, me dão a certeza de assumir uma posição incômoda.

Na faculdade ouvi falar de Mattoso Câmara. Embora considerado hermético por alguns, sempre senti firmeza e propriedade em suas linhas. Minha admiração cresceu quando li em sua Estrutura da língua portuguesa a orientação para que se desse, no ensino do Vernáculo, grande valorização à fala que o aluno já traz pronta de casa. Por ali tive certeza de que a expressão escrita não pode ser um corpo estranho no ambiente escolar.
Esta avaliação tomou nova firmeza quando me encontrei com Celso Pedro Luft em Brasília. Luft, no livrinho Língua e liberdade, expõe argumentos definitivos a favor da soberania da gramática da fala. Ali se vê que o padrão dito culto pode ser o popular, sem prejuízo para uma variedade burocrática. O conhecimento da metaliguagem gramatical prescritiva não leva ipso facto ao bom desempenho factual do código. Antes, é imitando quem faz bem que fazemos bem. A leitura dos bons escritos levará à boa técnica. Como na arte musical, é "ouvindo" que se gosta e que se pode tentar fazer semelhante.
Que acham?

(Altair Malacarne - 23/11/06)



Mattoso Câmara

Amigos,
Mattoso Câmara, no Estrutura da língua portuguesa, diz que u’a norma gramatical, “para não ser caprichosa e contraproducente”, deve basear-se em 3 pilares:
1. Corresponder às lições da gramática descritiva.
2. Conhecer as causas profundas que levam à sua inobservação por alguns indivíduos ou classes.
3. Ser “elástica e contingente, de acordo com cada situação social específica..”

Embora não esteja escrito formalmente, entendo que os requisitos são cumulativos, i.e., a norma deve atender a todos eles. Evidentemente, tem de haver uma norma sancionada por quem de direito. Parece-me que, a nível de Brasil, esta tarefa não foi ainda completada.
Ficamos na dependência dos autores de gramáticas normativas e trabalhos delas derivados. Podemos sentir a dificuldade que é nortear-se nesse ambiente. Esta “dura luta” advém do fato de que aqueles pilares não estão, em geral, presentes nas bizantinas prescrições que se traçam nelas. As comunidades aqui do Ookut estão prenhes das dúvidas mais curiosas.
O Português brasileiro hoje é um “Latim vulgar” em relação ao que quer ensinar a escola. Sabemos que é Português, e temos orgulho que seja uma grande herança deixada gratuitamente por nosso colonizador. Os morfemas segmentais portugueses estão aqui presentes e queremos que eles continuem. Se eu digo /up+ar/ por /subir/, estou seguindo o código que mamãe me ensinou.
Penso que nosso ensino de padrão culto deve passar por 2 alterações:
1. Como ensinar.
2. O que ensinar.
O triste panorama sentido pelo País afora está a nos dizer que é preciso mudar. Em lugar de xingar os considerados “extremistas”, acho que seria bom ouvi-los e mudar de rumo, antes que nosso Português vire Brasileiro. Por que não podemos ter uma gramática normativa para o Português Brasileiro?
Abraços.

(Altair Malacarne - 27/11/06)


(Textos postados por Edmilson Borret)

Nenhum comentário: