Amigos,
Ando escrevendo algumas coisas em tópicos de comunidades aqui do Orkut. Tenho recebido palavras de estímulo. As pessoas dizem que emprego bem os vocábulos.
Espero que meus leitores tenham o mesmo prazer que eu tenho quando escuto uma pessoa falar bem. Ou escrever bem. Isto me faz lembrar de meu antigo professor de Literatura. Certa vez ele contou o seguinte.
Ele morava em Vitória (ES). Lá, ele foi assistir a uma palestra de Guimarães Rosa. O grande mestre das palavras disse, mais ou menos, o seguinte:
- As palavras são como notas musicais. Vou escrevendo e sentindo o "som" delas. Se alguma não forma um perfeito "acorde" no conjunto, vou trocando até achar uma que "soa" bem.
Cito como exemplo da atualidade, as poesias musicadas por Chico Buarque. O que se sente nelas é a sonoridade, a grandeza e a plenitude do universo.
Sonho com isso.

(Altair Malacarne. Escrever. 21/12/2006.)

21.11.08

CHUVA

AMIGOS,
A volta dela me trouxe alguma lembrança antiga.
Morávamos na barra do córrego da Mula, onde hoje é o 1° cruzamento no asfalto que vem de São Domingos para São Gabriel da Palha. As chuvas fortes de fim de ano tinham chegado com força. Para quem, como nós, está acostumado a esperar e torcer por uma chuvinha, aquilo era quase um milagre. Como agora, estava chovendo havia 5 dias seguidos. Isto acontece quando sobre nós acontece u’a zona de convergência de 2 frentes frias, uma vinda do pólo sul, outra dos Andes. Foi o que causou o "dilúvio" de 1979 em Colatina.
Ninguém saía de casa, não dava pra trabalhar na roça. Papai ficava afiando as ferramentas no rebolo embaixo da casa. Meus irmãos transitavam despreocupados dentro de casa, fazendo alguma molecagem. A cobertura da casa era feita com tabuinhas de ipê, o que gerava um barulhinho acolhedor e entorpecente na caída dos pingos, não raro em forma de temporal.
O córrego da Mula estava cheio. As águas já se espalhavam pela pequena vargem; elas quase já cobriam a pequena pedra onde mamãe lavava as roupas encardidas de nós todos. E a chuva não parava. O nosso gadinho já havia comido todo o capim da margem direita do córrego. As águas impediam que eles passassem pro outro lado. Hoje eu diria que nem parecia que estávamos situados na área do polígono da seca nordestino.
De repente, um bezerro mais afoito entrou na correnteza e tentou atravessar a barreira. Me lembro quando ele perdeu a sustentação e começou a descer boiando. A sorte é que tinha uma cerca velha na beira do São Domingos e ele ficou agarrado ali. Berrava sem parar. Quando viu aquilo, papai chamou a turma e foram retirar o temerário.
Aquela imagem do esforço e da coragem para salvar um desesperado se afogando nas águas da chuva, decorridos 60 anos, até hoje está fixa em minha cabeça.

Abraços


(Altair Malacarne - 15/11/2008)


(Texto postado por Isabel Goulart)

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