Amigos,
Ando escrevendo algumas coisas em tópicos de comunidades aqui do Orkut. Tenho recebido palavras de estímulo. As pessoas dizem que emprego bem os vocábulos.
Espero que meus leitores tenham o mesmo prazer que eu tenho quando escuto uma pessoa falar bem. Ou escrever bem. Isto me faz lembrar de meu antigo professor de Literatura. Certa vez ele contou o seguinte.
Ele morava em Vitória (ES). Lá, ele foi assistir a uma palestra de Guimarães Rosa. O grande mestre das palavras disse, mais ou menos, o seguinte:
- As palavras são como notas musicais. Vou escrevendo e sentindo o "som" delas. Se alguma não forma um perfeito "acorde" no conjunto, vou trocando até achar uma que "soa" bem.
Cito como exemplo da atualidade, as poesias musicadas por Chico Buarque. O que se sente nelas é a sonoridade, a grandeza e a plenitude do universo.
Sonho com isso.

(Altair Malacarne. Escrever. 21/12/2006.)

1.11.08

Aprendendo e ensinando...

.


1º dia de aula

Amigos,

Em 1949, chegou meu 1° dia de aula. Me lavei na água do córrego da Mula, botei a melhor roupa, peguei a bolsa de pano com um lápis e uma cartilha (comprada na venda do Atílio Colnago) e lá fomos eu e meu irmão Chiquim pro Grupo Escolar na rua de São Domingos (do Norte). Descalços, andamos um bom pedaço de chão, juntamente com as meninas da velha Peroni.
Quanto menino. Tudo estranho. Não conseguíamos nem conversar. A escola ficava onde é hoje o Incaper. Mas, às 7.00h, formamos uma fila dupla. Cantamos o Hino Nacional e entramos em silêncio.
Lá dentro, vi minha 1ª professora: Da. Nila Romanelli, de Fundão(ES). Ela logo passou a ensinar o ASA/EMA num quadro de madeira. Falou que teríamos de arrumar um caderno de caligrafia. Deu vontade de mijar. Com muita vergonha, pedi pra ir no quartim. Pela 1ª vez, vi um vaso sanitário.
Veio o recreio. Começamos a nos conhecer. Foi meia hora de folga. Depois voltamos pra sala. Já surgiram algumas conversinhas. Mais lições da cartilha. Olhávamos as letras e ficávamos pensando se um dia conseguiríamos copiá-las.
Chegou o final da aula. Em silêncio, saí daquele prédio novo e bonito como se estivesse saindo de uma igreja. Voltei pra barra do córrego da Mula. Voltei pra roça. Naquele dia eu tinha tido meu primeiro contato com as letras. Letras que mudariam por completo o rumo da minha vida. Que se tornou bem mais útil e agradável.


SGP, 27.06.2007

(Altair Malacarne - 27/06/2007)


Colégio Conde de Linhares

Agora fiquei triste. Eu não sabia que o Colégio Conde de Linhares está fechado, há 2 anos. Que notícia terrível. De repente passou um filme na minha cabeça. Eu lecionei lá de 1964 a 1972. Foram anos gloriosos. Como foi bom... Era um endereço feliz. Aulas de manhã, à tarde e à noite. Mais de 1.000 alunos. Os professores éramos bancários, advogados, médicos, empresários. Me lembro de muitos alunos que hoje são amigos meus de Orkut, todos bem encaminhados na vida. Na entrevista falou meu ex-aluno Caetano Bravim, hoje professor. Lamentou igual minha mulher. Diz ela que desde lá já me "via", enquanto fazia o Curso Normal. O Diretor da época era o Dr. Dirceu João Pagani. O Colégio tinha uma Banda Marcial que desfilava todo ano à frente dos alunos na Festa de Colatina. Não dá pra continuar. Termino dizendo que agora vejo que muitos amigos têm razão: O ensino público entrou num processo de "salve-se quem puder". Sylvio Vitali sempre me dizia que os governos não têm interesse na educação do povo. Ao que parece, ele tem razão.

(Altair Malacarne - 25/05/2007)


Eu o "Conde"



Nos anos iniciais da década de 1960, eu lecionava em São Domingos (do Norte). Foi quando saiu a notícia de que a Rodovia do Café (Colatina/Barra de São Francisco) seria asfaltada. Como morador do trecho, eu vibrei de alegria: Não mais buracos, poeira e lama.
No dia aprazado, peguei minha bicicleta e rumei para o distrito de Frechiani, onde ficariam as máquinas da empreiteira. O governador do estado era Carlos Lindemberg. Depois de meter o pau no sofrível Francisco de Lacerda Aguiar (Chiquinho, o governador anterior), num discurso inflamado, ele citou que estava trazendo 2 grandes obras para Colatina: aquele asfalto e um novo grande colégio.
Em 1964, eu comecei a dar aulas no grande colégio, o CONDE DE LINHARES. Fiquei ali até 1972, quando passei a trabalhar em tempo integral no Banco do Brasil. Ficava até acanhado no meio de tanto professor catedrático. Advogados, médicos, contadores, bancários, profissionais liberais, poetas. O corpo docente era formado por uma plêiade notável. Os alunos eram aplicados e distintos. Saíam dali e passavam em vestibulares do Rio e Vitória sem fazer cursinho (não existiam). Outros passavam em concursos de alto valor. O "Conde" era o endereço onde estavam as melhores cabeças, os melhores corpos docente e discente. A educação trocou a qualidade pela quantidade nos anos 1970. Um dia fui lá dar uma aula de favor para um colega. Fiquei com pena dos meninos. Como se pode chegar a tal desnível? Às vezes chego a pensar que tenha sido melhor fechar mesmo. Mas, em nome da dignidade, eu torço para que ele reabra. E reabra com a qualidade antiga, porque a sociedade merece.
Abraços a todos.

(Altair Malacarne - 31/10/2008)


(Textos postados por Isabel Goulart)


Nenhum comentário: