Amigos,
Ando escrevendo algumas coisas em tópicos de comunidades aqui do Orkut. Tenho recebido palavras de estímulo. As pessoas dizem que emprego bem os vocábulos.
Espero que meus leitores tenham o mesmo prazer que eu tenho quando escuto uma pessoa falar bem. Ou escrever bem. Isto me faz lembrar de meu antigo professor de Literatura. Certa vez ele contou o seguinte.
Ele morava em Vitória (ES). Lá, ele foi assistir a uma palestra de Guimarães Rosa. O grande mestre das palavras disse, mais ou menos, o seguinte:
- As palavras são como notas musicais. Vou escrevendo e sentindo o "som" delas. Se alguma não forma um perfeito "acorde" no conjunto, vou trocando até achar uma que "soa" bem.
Cito como exemplo da atualidade, as poesias musicadas por Chico Buarque. O que se sente nelas é a sonoridade, a grandeza e a plenitude do universo.
Sonho com isso.

(Altair Malacarne. Escrever. 21/12/2006.)

22.4.09


A CARTINHA

Em 1952, eu freqüentava a 4ª série primária (hoje, 4º ano do ensino fundamental), na escola de São Domingos. Minha professora era Aciolina Simões Espíndula (a Da. Senhora). Menino da roça, tateando os caminhos da vida, senti que estava diante de u’a mulher extraordinária, u’a professora-mãe. Ela deu novo sentido ao rumo da minha vida.
Na década de 1980, o marido dela, Clério de Alcântara Espíndula, me entregou no Banco do Brasil(Colatina-ES), a cartinha abaixo, que eu tinha remetido(numa folha de caderno) a Da. Senhora, em dia falta à aula (mantenho a grafia original):

“São Domingos, 15 de dezembro de 1952.

Presada professora

Desejo-te saúde e felicidades.
Escrevo-te esta pequena carta dando minhas notícias do tempo em que foi aluno da senhora, e ao mesmo tem... recebe-las.
Eu freqüentei dois anos na aula: a primeira vez no primeiro ano e a segunda vez no quarto ano. E com esse tempo de frequencia fiquei muito satisfeito.
Quando fui 1º ano na aula da srª aprendi bem e passei com boa nota para o segundo ano. Foi ser aluno da Dª Ana onde, bem dizer, nada aprendi. E depois passei para o 3º ano porque aprendi alguma coisa no 1º ano. E assim mesmo com uma nota muito ruín.
Aonde freqüentei 2 ano para tirá uma boa media onde passei com 82 ³/10.
E eu já sabia bem. E depois eu esqueci dos livros, e quando freqüente o quarto ano, não sabia nem tirar as provas das contas.
Aí eu me esforcei o ano todo e a srª encinando de gosto, no 1º exame tirei 51 no segundo exame amentei 19 ponto tirei 70, e agora no ultimo, espero tirar uma boa media.
Pois bem, digo com franquesa : foi a minha melhor professora no curso primário, e que talves nunca mais será minha professora. As professoras e os livros são os melhores amigo da criança brasileira. E termino esta enviando abraços do seu querido aluno:

Altair Malacarne”


(Altair Malacarne - 2009)




(Texto postado por Isabel Goulart)





MEUS SAPATOS
AMIGOS,
Ganhei meu 1º par de sapatos na faixa de 10 anos de idade.
Naquele tempo, nosso café era vendido em Vitória. No retorno de uma dessas idas à capital, fui surpreendido com uma caixa de sapatos da marca TANK, acompanhado de 6 chapinhas de ferro, que deveriam se pregadas no solado a fim de prolongar seu uso. Agora eu pisava nos pastos sem medo de pegar um espinho. Era u'a maravilha.
Em 1953, quando fui pro seminário (Jaciguá-ES), levei o dito cujo par de sapatos. Só tinha ele. Tive que usá-lo durante os 2 anos que fiquei sem vir em casa. O resultado foi que ele foi esticando enquanto comprimia meus pés. Tenho ainda hoje nos pés as marcas da violência: Meus dedões são mais curtos que os segundos, e suas unhas são forçadas para baixo.
No final de 1954 vim em casa. Disse que precisava de um par novo. Ganhei um miserável dinheirinho para comprá-lo. Ao retornar, fui nas CASAS PATRA em Vitória e comprei 1 par de péssima qualidade. No final de 1955, ele estava todo estropiado.
Em dezembro de 1956, vim em casa (Santana <> Conceiçãp da Barra-ES) antes de ir para São João del Rey(MG). Falei com Mamãe da minha situação. Ela me disse que tinha na venda do Edgar Cabral, em Conceição da Barra. Sem falar nada com ninguém, fui lá e peguei um VULCABRÁS, de qualidade. Saí de casa com ele escondido. Durou 3 anos.
Tempos bicudos.
'sss

(Altair Malacarne - 2009)


(Texto postado por Isabel Goulart)